Num contexto de crescente envolvimento no combate às alterações climáticas, as empresas estão a adotar iniciativas alinhadas com um modelo de negócio capaz de respeitar o ambiente. Independentemente do setor, procuram cada vez mais alinhar os seus objetivos com os da descarbonização. Mas será a descarbonização – ou a neutralização das emissões – o esforço máximo a assumir nesse sentido?
Dívidas para com o planeta
Considerando que, a cada ano, são emitidos a nível global cerca de 50 bilhões de toneladas de gases com efeito estufa, a simples redução da própria pegada de carbono não põe um fim ao problema. A atividade humana está a reduzir o orçamento de carbono ou a cota de emissões estabelecida para limitar os efeitos das alterações climáticas. No entanto, para limitar o aumento da temperatura a 1,5°C, em 2050 as emissões globais de GEE devem ser próximas de zero. De acordo com o relatório do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC), alcançar este objetivo vai significar que:
O nosso mundo passará a sofrer menos impactos negativos sobre a intensidade e frequência de eventos extremos, recursos, ecossistemas, biodiversidade, segurança alimentar, cidades, turismo e remoção de carbono.
As empresas são uma parte fundamental deste desafio e devem estabelecer metas ambiciosas para enfrentá-lo. A realidade é que, com os níveis atuais de GEE libertados na atmosfera, serão necessárias “centenas de anos para regular e arrefecer a sua temperatura“. Numa luta justa pelo tempo, a abordagem positiva para o clima visa responder a esta pergunta, traçando o caminho certo a ser seguido.
Delinear uma Abordagem Positiva para o Clima
Embora ainda não exista uma definição concreta ou um padrão para o que constitui ser positivo para o clima, trata-se de um posicionamento necessário, uma vez que cinco dos nove limites planetários já foram ultrapassados. Estes sistemas são responsáveis por regular a estabilidade e a resiliência dos sistemas de vida na Terra e ultrapassar estes limites aumenta o risco de mudanças ambientais abruptas e irreversíveis em larga escala.
No combate às alterações climáticas, as emissões antropogênicas – um dos nove limites – estão no centro das atenções. Assim, um produto, entidade ou local pode ser definido como positivo para o clima se remover mais emissões nocivas do que as criadas durante o seu ciclo de vida ou atividade. Ser positivo para o clima e ser neutro em emissões líquidas de carbono são conceitos que partilham o mesmo significado: absorver as emissões de CO2 já presentes na atmosfera, enquanto se mitiga as próprias emissões (emissão líquida zero de carbono). Portanto, ser positivo para o clima é baseado na implementação de medidas complementares com o objetivo de criar um benefício ambiental.
De que forma podem as empresas fazer isso?
Em termos gerais, para serem Climate Positive, as empresas devem passar por três etapas: medir, gerir e compensar a sua pegada. Entretanto, existem formas para conduzir esta mudança e torná-la mais eficiente – altura onde entram a inovação e a disseminação das melhores práticas.
1. Calcular
Medir a pegada de carbono de uma determinada iniciativa requer uma visão holística, que pressupõe uma análise das emissões desde o início até o fim da atividade (from cradle to grave). Ao utilizar uma estrutura de contabilidade de carbono, as emissões produzidas são estimadas através da análise dos componentes utilizados, das fontes de energia, da cadeia de abastecimento e da gestão de resíduos, entre outras coisas.
O dióxido de carbono (CO2) não é a única emissão a ser levada em conta. Outros gases como o metano ou o óxido nitroso são igualmente relevantes neste contexto. O índice de potencial de aquecimento global (PAG) é uma forma de medir os outros GEE envolvidos no aquecimento global e adicioná-los à nossa pegada de carbono.
2. Gerir
Uma vez identificadas e analisadas as fontes de GEE das nossas iniciativas, a redução de emissões deve ser posta em prática. Ao estabelecer metas Baseadas na Ciência, deve ser definido um plano para reduzir as emissões, tais como a transição para energias renováveis, redução do desperdício, apoio à produção local, frota elétrica, etc. É importante manter a circularidade em todas as etapas para reduzir o impacto da nossa atividade.
3. Compensar
Para ser benéfica ao ambiente, uma iniciativa deve remover os GEE da atmosfera. Desta forma, as empresas podem compensar as emissões que, inevitavelmente, produzem com a sua atividade. Estas medidas complementares são aplicadas através da compensação de carbono, utilizando soluções baseadas na natureza para capturar o mesmo. A compensação de carbono também pode ser feita usando tecnologia ou investindo em projetos ambientais, como a energia renovável.
4. Inovar
A inovação e o investimento em pesquisa e desenvolvimento assumem um papel chave e traduzem-se em novas formas de combater as alterações climáticas nos diferentes setores. Usar medidas não convencionais e investir nesses projetos pode fazer toda a diferença nesta corrida contra o tempo da mitigação de alterações climáticas.
5. Divulgar a causa
Obter o maior número possível de atores para alcançar o objetivo positivo para o clima é benéfico para a sociedade como um todo. Ao disseminar histórias de sucesso e boas práticas, a visibilidade pode ser dada e o número de pessoas envolvidas pode ser maximizado. Esta sinergia gera um impacto maior e contribui para fornecedores, funcionários e clientes mais engajados. Isto também depende totalmente da transparência dos relatórios das iniciativas e resultados positivos para o clima.
As empresas devem participar ativamente e de forma responsável na elaboração de políticas climáticas. Para a WWF, realizar a ambição positiva do clima significa colaborar com outras empresas e organizações em torno de soluções compartilhadas para capacitar e inspirar os consumidores.
Ser positivo para o clima é uma maneira de as empresas liderarem a ação climática. A palavra “responsabilidade” tornou-se sinônimo de “agir”, seguindo um caminho ético e criando sinergias para uma mudança inclusiva.
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