A 27ª edição da cúpula sobre o clima foi realizada em Sharm El Sheikh, no Egito, de 6 a 18 de novembro. Trata-se de um evento de grande relevância no contexto do multilateralismo e da cooperação internacional, portanto é um acontecimento imperdível para as empresas. A Conferência das Partes determina as melhores práticas, os objetivos e o caminho a seguir para alinhar as organizações em torno do desenvolvimento sustentável. Por isso, preparamos um resumo da COP27 para as empresas.
O que é a COP27?
A Conferência das Partes (COP) é a cúpula anual da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (UNFCCC). Reúne representantes dos países que ratificaram a convenção, sendo que 197 nações constituem hoje as Partes. Essas reuniões se concentram em encontrar soluções para passar para uma economia que priorize o crescimento sustentável e coloque o nosso planeta e o bem-estar da nossa sociedade acima dos lucros.
As decisões na COP são tomadas por meio do consenso entre todas as Partes e os acordos podem ser vinculativos. De acordo com o artigo 7.2 da UNFCCC: “A COP […] tomará, no âmbito do seu mandato, as decisões necessárias para promover a implementação efetiva da Convenção” e deverá, para tanto, “fazer recomendações sobre qualquer assunto necessário para a implementação da Convenção” (art.7.2(g)).
Objetivos da COP27
Este ano, a COP27 se concentrou em três objetivos principais:
- O financiamento da justiça climática por meio de um fundo de adaptação.
- Descontinuar o uso de todos os combustíveis fósseis.
- Continuar os esforços para limitar o aumento da temperatura média global a 1,5°C.
O primeiro objetivo foi alcançado com o estabelecimento de um fundo de “perdas e ganhos” para todos os países mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas (enchentes graves, secas prolongadas, etc.). Após a COP27, os países de alta renda se comprometeram a contribuir com mais de $ 230 milhões para o Fundo de Adaptação. Esses compromissos ajudarão as comunidades mais vulneráveis com soluções de adaptação concretas.
Quanto à segunda meta, citando as palavras de encerramento do Secretário Geral das Nações Unidas, Antonio Guterres: “O nosso planeta ainda se encontra na unidade de emergência. Precisamos reduzir drasticamente as emissões imediatamente e esse é um assunto que esta COP não tratou”. Ao afirmar isso, o Secretário Geral deixou claro que as negociações deste ano fracassaram em chegar a um acordo que pudesse reduzir significativamente as emissões dos gases de efeito estufa. Visto que o acúmulo de GEE só aumentará e que as metas de ações climáticas não estão sendo cumpridas, será difícil limitar o aquecimento global ao patamar estabelecido no Acordo de Paris. De fato, as previsões sugerem que, até o final do século, as temperaturas globais aumentarão 2,5ºC, de acordo com um relatório de síntese das Contribuições Determinadas Nacionalmente.
Com um aumento de temperatura atual ao redor de 1,2 grau, é imperativo financiar ações climáticas. O Vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans, que também comandou os trabalhos do Acordo Verde Europeu, destacou a insatisfação da UE com as políticas de mitigação: “para lidar com as mudanças climáticas, todos os fluxos de financiamento devem apoiar a transição rumo a baixos níveis de carbono. A UE veio para estabelecer acordos robustos e estamos muito desapontados porque isso não aconteceu.”
O que a COP27 significa para as empresas?
Seguem abaixo os três principais temas do encontro sobre o clima que são mais relevantes para as companhias e suas estratégias de ASG.
Compromissos Net Zero
Após a COP26, muitas empresas e governos se comprometeram a implementar objetivos e políticas net zero (zero líquido de emissões) de médio e curto prazo. A COP27 voltou a colocar o foco nos compromissos assumidos e no caminho que diversas partes interessadas estão trilhando para cumpri-los. O Grupo de Especialistas de Alto Nível sobre Compromissos Net Zero das Nações Unidas publicou um relatório durante a cúpula, que serve como um guia para garantir compromissos Net Zero críveis e verificáveis por parte da indústria, de instituições financeiras, cidades e regiões. Extraímos as informações que dizem respeito às empresas do relatório e as dividimos em três seções:
- Os compromissos Net Zero devem estar alinhados com cenários IPCC limitando o aquecimento global médio a 1,5 grau. Isso significa que as emissões globais devem ser reduzidas em pelo menos 45% até 2030 e alcançar zero líquido até 2050. Os compromissos devem ter metas intermediárias a cada cinco anos, a partir de 2025, e essas metas devem abranger todas as emissões de gases de efeito estufa e todos os âmbitos de emissão. Para as empresas, isso significa todas as emissões: diretas, indiretas e originárias das cadeias de abastecimento. É preciso seguir essa norma e atualizar as diretrizes imediatamente e, definitivamente, antes da COP28.
- Em segundo lugar, no que diz respeito à credibilidade, um processo rápido e completo de descarbonização nesta década será o teste definitivo. Os líderes de empresas, instituições financeiras e autoridades locais devem apresentar planos de transição para os seus compromissos net zero. Esses planos devem ser divulgados publicamente, com ações detalhadas e concretas para cumprir todas as metas. A gerência deve se responsabilizar por honrar tais compromissos. Isso significa promover publicamente ações climáticas decisivas e divulgar todas as atividades de lobby. As metas devem ser alcançadas por meio de cortes reais nas emissões. Os combustíveis fósseis devem ser abandonados em prol do aumento do uso de fontes de energia renováveis.
- Em terceiro lugar, no que diz respeito à verificação, a transparência total é essencial. A UNFCCC possui uma plataforma global pública, o Portal Global de Ações Climáticas, que já está sendo usada para registrar os compromissos, publicar planos de transição e acompanhar os relatórios anuais de implementação. Os compromissos net zero de governos e do setor privado não podem ser um mero exercício de relações públicas.
Esta última seção, especialmente a parte da comunicação sobre políticas de sustentabilidade que estão sendo realizadas, é outro dos pontos fortes discutidos durante a COP27. Antonio Guterres declarou que “devemos ter tolerância zero com propagandas vazias relacionadas aos compromissos net zero” e aqui explicamos por que as empresas deveriam levar isso a sério.
Da propaganda vazia ao silêncio
Ao divulgar iniciativas que contribuem para “melhorar” o planeta, muitas empresas cometem o erro de não levar em consideração como as suas atividades contribuem para a crise climática. Esse é o caso, por exemplo, de companhias que afirmam ter investido em iniciativas amigáveis com o meio ambiente, mas que não reconhecem como contribuem para as mudanças climáticas por meio das suas emissões de GEE. Esse é um exemplo claro de greenwashing (propaganda vazia). A COP27 destacou que o fenômeno da propaganda vazia, ou seja, a tática comunicacional de representar um produto ou serviço como algo mais sustentável do que de fato é (ou de exagerar os benefícios ambientais), está sendo substituído pelo greenhushing (silêncio a respeito do tema).
Com medo de represálias e de um escrutínio crescente sobre a comunicação das empresas relacionada às suas estratégias de ASG, muitas organizações preferem se manter em silêncio sobre as suas estratégias de sustentabilidade. Essa prática, que surgiu como um mecanismo de proteção diante de possíveis crises de reputações, é um problema real para a verificação. As empresas que preferem não divulgar suas estratégias e objetivos net zero também estão evitando um importante debate com as partes interessadas e a falta de transparência pode ser fatal. Esse é um problema particularmente relevante para as PMEs, visto que muitas não são obrigadas a divulgar informações não financeiras.
Lançamento da Parceria de Líderes Florestais e Climáticos
A gestão e preservação florestal sustentável deu um passo significativo após a realização da COP27, graças ao estabelecimento da Parceria de Líderes Florestais e Climáticos. O objetivo desta aliança é unir ações de governos e líderes de empresas e comunitários para deter a perda desses importantes biomas. As florestas desempenham um papel crítico no combate às mudanças climáticas, bem como para enfrentar a perda de biodiversidade.
A Parceria também visa prevenir a degradação do solo até 2030. De acordo com um estudo publicado pela revista Nature sobre o estado atual dos microbiomas terrestres, mais de 90% do solo da Terra estará degradado até 2050. A perda de microrganismos benéficos para o solo tem implicações alarmantes para a vida e os ecossistemas, incluindo consequências negativas para a agricultura e a segurança alimentar.
Por isso, 27 países que representam mais de 60% do PIB global e que cobrem 33% das florestas do mundo se uniram à nova parceria e se comprometeram a liderar com o exemplo. Por sua vez, as empresas devem assegurar que os recursos naturais que utilizam são obtidos de maneira sustentável e aumentar a sua transparência em relação à cadeia de abastecimento.
Acertando na estratégia de ASG pós-COP27
A COP27 deixou claro que todos nós desempenhamos um papel essencial no combate às mudanças climáticas. Tanto governos como empresas devem se encaminhar para uma transição climática justa que não deixe ninguém para trás. É um desafio que requer ações concretas e rápidas, porque perante a crise climática atual, não há lugar para o meio termo. Para acertar na estratégia de sustentabilidade da sua empresa, é necessário começar medindo a pegada ambiental corporativa, o impacto social das suas políticas e os mecanismos implementados para garantir uma governança corporativa adequada.
Para isso, a APlanet conta com duas ferramentas especializadas para a gestão da sustentabilidade. APlanet Neutrality é uma plataforma que mede as emissões de GEE em toda a cadeia de abastecimento. Com o software, as emissões de escopo 1, 2 e 3 podem ser calculadas de acordo com o Protocolo de GEE. Por outro lado, a APlanet Sustainability permite gerenciar todas as informações não financeiras da sua empresa para que você possa gerar os seus relatórios de sustentabilidade de acordo com os padrões internacionais mais rigorosos. Quer começar a agir? Fale conosco!
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